Por Paulo Angelim* É muito comum vermos nas empresas a seguinte cena: “Coloque o estagiário (o trainee, o novato...) junto com o Fulano de Tal, assim ele aprenderá mais rápido como deve ser feito!”. Ou ainda, “Vou ficar pertinho da Cicrana, olhando tudo que ela faz para aprender como vender melhor e mais!”. Puro engano. Existe muita confusão entre o que seja "saber" e "aprender". Em uma bela música de Beto Guedes, encontramos uma passagem de grande profundidade e sabedoria: "A lição sabemos de cor, só nos resta aprender." Como a música sugere, o fato de sabermos sobre alguma coisa, não implica que a tenhamos aprendido. Acredito piamente neste princípio e afirmo ainda, e categoricamente, que você nada pode aprender com os outros, nem experiência, nem novas técnicas, muito menos novos hábitos. É engano, pura ilusão você afirmar “aprendi muito com aquele novo professor!” Com outra pessoa, você poderá tão somente passar a conhecer novas práticas, técnicas, métodos, estratégias. É óbvio que você deve estar se perguntando: “Sim, mas, então, quando e como podemos aprender algo?”. Somente quando nos propomos a FAZER aquilo que passamos a conhecer, é que podemos dizer que estamos em um processo de aprendizado. Você somente irá aprender sobre algo quando se dispuser a exercitar, fazer, errar, ajustar, fazer de novo. É por isso que somente poucas pessoas conseguem aprender com a vida. A idéia popular de que “a vida é um eterno aprendizado” é falha. Na verdade, “a vida é um eterno ensinamento”, e pouca gente tem decidido aprender com ela. As que aprendem são aquelas que decidiram FAZER algo a respeito do que passaram a conhecer, do que passaram a saber, ou do que passaram a experimentar. Você pode até conhecer algo novo com os outros, mas somente irá aprender consigo mesmo.
O grande risco que você corre em não assimilar esse princípio (só aprendemos algo quando o exercitamos) é cair numa roda vida e interminável de leituras, cursos, palestras, seminários, achando que pelo fato de estar absorvendo todo esse novo conhecimento você está aprendendo algo. Gosto de chamar essa ciranda ou obsessão por novos conhecimentos, sem a conseqüente e necessária aplicação prática, de “obesidade do saber”. Sabe aquelas pessoas que comem, comem, mas não gastam a energia ingerida, tornando-se obesas, verdadeiros depósitos de energia em potencial, mas não utilizada? Ora, isso é diletantismo, é saber sem aprender. Já notou que certas pessoas estudaram muito, sabem muito, mas parece que não aprenderam nada, pois são incapazes de fazer ou aplicar o que sabem? Já viram pessoas que conhecem toda a Bíblia, mas são incapazes de amar, de servir ao próximo. Então, estou falando do fenômeno do saber ou do conhecer dissociado do aprender. Sabem muito, mas não aprenderam nada!
“Mas, porque isso é tão importante para a vida profissional?” Além do risco da “obesidade do saber”, você corre um risco maior ainda: parar de crescer, de evoluir. É simples! A melhor definição que já formulei para o crescimento humano (não o físico, mas o intelectual, o profissional, o espiritual) foi a seguinte: crescer é aprender algo novo. Ou seja, o processo de aprendizado contínuo é o grande responsável por não envelhecermos, por continuarmos em contínuo crescimento, evitando a estagnação. Quando você acredita que saber é a mesma coisa que aprender, você cai na ilusão já mencionada anteriormente (obesidade do saber), não aprende, e pára de crescer de evoluir.
Para arrematar o conceito aqui exposto, deixo-lhe dois belíssimos pensamentos que nos alertam para a necessidade de praticarmos o que sabemos, sob o risco de não aprendermos nada. O primeiro é de Aristóteles: “Excelência é uma arte conquistada pelo treino e hábito. Nós não agimos certo porque temos virtuosidade ou excelência, mas preferencialmente as temos porque agimos certo. Nós somos o que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um ato, mas um hábito.” O segundo encontramos na Bíblia, na carta de Tiago, capítulo 1, versos 22 a 26: “E sede praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos... Entretanto, aquele que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas praticante da obra, este será bem-aventurado no que fizer.”
Então, aprendeu esse novo conceito? Se disser que sim, é melhor reler todo o artigo, pois, na verdade, a única coisa que no máximo pode ter ocorrido com a leitura deste artigo é você ter passado a saber, passado a conhecer esse novo conceito. Para aprender mesmo, você terá que agora praticá-lo. E a primeira coisa a fazer, o primeiro novo hábito a aplicar será o de parar de dizer que aprendeu alguma coisa com os outros, comigo, por exemplo. E agora, aprendeu? “O quê? Você disse sim, de novo! Bem, deixe-me explicar, mais uma vez...”
(texto extraido do site: http://vocesa.abril.uol.com.br/)
(Paulo Angelim, consulto em Marketing, vendas e Responsabilidade Pessoal)